O prelúdio não se limita a estabelecer a história de Oscar Diggs (James Franco), o mágico charlatão de circo do Kansas que é transportado para a Terra de Oz. O que o diretor Sam Raimi e a Disney fazem é transitar nos limites da lei para associar os dois filmes,
mas sem configurar quebra de direitos. Então o espectador não verá
os sapatinhos de rubi, por exemplo, que no livro de Baum eram de
prata, mas a bruxa com o rosto verde, queixo e chapéu pontudos - que o
filme de 1939 inventou - aparece aqui. Como bruxas pontudas e verdes
já viraram parte do imaginário do século 20, a questão judicial se
dilui (ou pelo menos a Disney torce por isso).
A questão é que Oz - Mágico e Poderoso parece muito mais
um filme calculado para juntar pedaços bem-sucedidos de outros filmes
do que, propriamente, um exércício autoral. Dos cavalos de diferentes
cores ao visual da Cidade das Esmeraldas, tudo lembra vagamente O Mágico de Oz de 1939, mas há elementos também de Alice no País das Maravilhas de Tim Burton
- que fez US$ 1 bilhão para a Disney em 2010 -, como sugerir um
filme de guerra dentro de uma fantasia 3D, e até um elogio às origens
do cinema, igual a Hugo Cabret.
Em meio às colagens, Oz - Mágico e Poderoso soa como um retrocesso, um filme que se esforça demais para ser deslumbrante o tempo todo, mas que não aproveita a profundidade que a estereoscopia oferece. É como se fosse um filme antigo usando a tecnologia de hoje, como se Avatar não tivesse existido para mostrar o beabá do novo 3D.
Talvez exista aí, nessa opção por um teatrinho de chroma-key, um componente de nostalgia, e Oz - Mágico e Poderoso,
filme que já tem seus defensores, certamente pode ser visto sob esse
viés. Mas a impressão que fica, pelo menos para este fã de Sam
Raimi, é que o potencial do diretor foi mal aproveitado.
Porque não há nada mais oposto ao impulso frenético do cineasta do
que esse cinema de câmeras aéreas e panorâmicas que a Disney usa
para encher os olhos do seu público. No limite, são estilos
incompatíveis: os planos-sequências de deslumbramento não combinam
com os zooms nervosos e a montagem rápida de Raimi. Temos aqui um
cineasta que sempre usou a câmera objetiva da forma mais subjetiva
possível, como um olho tenso, que não permite perspectivas isentas, e
ao mesmo tempo a fantasia Disney exige aquela câmera que passeia,
aquela câmera turista.
Nas cenas de ação, nas escolhas de maquiagem, Sam Raimi coloca o seu dedo monstruoso no caldo, mas de resto, infelizmente, Oz - Mágico e Poderoso é um filme que não suja a mão, que não se compromete.
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