domingo, 26 de maio de 2013

G.I. Joe: Retaliação : Crítica

  Em tempos em que adaptações vivem adequando-se aos moldes de outras séries - que muitas vezes não vão ao encontro de suas origens - G.I. Joe: Retaliação continua mantendo-se fiel à simplista premissa dos brinquedos da Hasbro, a luta por controle de duas organizações antagonistas, com seus personagens extravagantes. O longa original, G.I. Joe: A Origem de Cobra, já havia acertado nisso, ainda que muitos tenham torcido o nariz para o excesso de humor e aquela sensação de que os realizadores estão se divertindo mais do que deveriam. Cientes disso, os produtores tornaram a trama um pouco mais dramática na continuação. Os Joes, afinal, deixam desde o início de ser um exército para tornarem-se um pequeno grupo de sobreviventes, depois de um devastador ataque, orquestrado desde o final do primeiro filme.


  A ideia é ótima para reposicionar o tom sem a necessidade de "reboots". Os eventos da adaptação de 2009 são totalmente considerados, mas é quase como se fosse uma nova leitura. Ajuda também o fato de que, com menos pessoas no elenco, há mais espaço para trabalhar melhor as relações entre os personagens e aprofundá-los (na medida do necessário em um filme de ação assim). O elenco também é superior. Dwayne Johnson, que vive Roadblock, esbanja o carisma de sempre, ao lado de DJ Cotrona (Flint), Adrienne Palicki (Lady Jane) e Bruce Willis (Joe). O lado dos Cobras também ganha reforços na figura de Ray Stevenson, o Firefly, e nas interações na Casa Branca, todas muito boas. A presença do "Líder do Mundo Livre", aliás, traz uma positiva crítica política, ressaltada pela pesquisa de popularidade do presidente e algumas cenas da Fox News. Jonathan Pryce, que faz o personagem do presidente, é ao mesmo tempo Obama e Bush em GI Joe: Retaliação.

  John M. Chu, diretor egresso de filmes de dança (Ela Dança, Eu Danço 2 e 3) e do documentário Never Say Never (sim, o do Justin Bieber!), surpreende com seu entendimento de sequências de ação - em especial as coreografias dos ninjas - e estruturação dos planos de forma a tornar as cenas inteligíveis, algo cada vez mais raro nesse tipo de cinemão explosivo. Há espaço para sutilezas interessantes também, como a excelente cena, improvisada nos ensaios, em que Flint e Lady Jane dividem um momento de intimidade.
O roteiro de Rhett ReesePaul Wernick (a dupla de Zumbilândia), no entanto, se arrisca no vai-e-vem e flashbacks com os ninjas. Ainda que sejam esteticamente agradáveis e respeitem acontecimentos dos desenhos animados, essas cenas e personagens confundem quem não está habituado com a franquia ou não tem o primeiro longa na memória (o que, convenhamos, é a grande maioria). Essa trama que corre paralela é mal explicada e tem furos, parece apressada e interessada um pouco demais no mercado oriental, representado aqui na figura de Lee Byung-hum, o Storm Shadow.

  Também soa forçadíssimo o grande plano do Comandante Cobra (Luke Bracey), que envolve um encontro de armas nucleares. Toda a sequência é caricata demais e carece de tensão verdadeira, destoando do todo e resultando em algo meio risível. O clímax, literalmente, bombástico também torna um tanto difícil acreditar no desfecho, por mais fantasioso que o filme seja. Com um eventual genocídio de milhões de habitantes de uma cidade não haveria espaço para finais felizes ou continuações, já que mudaria todo o panorama sóciopolítico do planeta. Talvez o filme devesse ter se contido no desejo de explodir deus-e-o-mundo, em prol de sua própria despretensão.

  Para quem conseguir ignorar isso e focar-se no teor juvenil da trama, porém, GI Joe: Retaliação deve ser diversão garantida. Afinal, o filme tecnicamente é espetacular, cheio de cenas empolgantes e ideias bacanas, traquitanas tecnológicas e com um 3D bem decente, apesar de convertido (o filme foi atrasado em quase um ano para garantir a qualidade da estereoscopia, entre outras mudanças). Enfim, mais sério que o primeiro filme dos Comandos em Ação, mas não mais realista, G.I. Joe: Retaliação segue levando a franquia na direção certa, explorando a alma da linha de brinquedos, sem a necessidade de reinventar sua essência.



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