Em
tempos em que adaptações vivem adequando-se aos moldes de outras
séries - que muitas vezes não vão ao encontro de suas origens - G.I. Joe: Retaliação continua mantendo-se fiel à simplista premissa dos brinquedos da Hasbro, a luta por controle de duas organizações antagonistas, com seus personagens extravagantes. O longa original, G.I. Joe: A Origem de Cobra,
já havia acertado nisso, ainda que muitos tenham torcido o nariz para o
excesso de humor e aquela sensação de que os realizadores estão se
divertindo mais do que deveriam. Cientes disso, os produtores tornaram a
trama um pouco mais dramática na continuação. Os Joes, afinal, deixam
desde o início de ser um exército para tornarem-se um pequeno grupo de
sobreviventes, depois de um devastador ataque, orquestrado desde o final
do primeiro filme.
A ideia é ótima para reposicionar o tom sem a necessidade de
"reboots". Os eventos da adaptação de 2009 são totalmente considerados,
mas é quase como se fosse uma nova leitura. Ajuda também o fato de que,
com menos pessoas no elenco, há mais espaço para trabalhar melhor as
relações entre os personagens e aprofundá-los (na medida do necessário
em um filme de ação assim). O elenco também é superior. Dwayne Johnson, que vive Roadblock, esbanja o carisma de sempre, ao lado de DJ Cotrona (Flint), Adrienne Palicki (Lady Jane) e Bruce Willis (Joe). O lado dos Cobras também ganha reforços na figura de Ray Stevenson,
o Firefly, e nas interações na Casa Branca, todas muito boas. A
presença do "Líder do Mundo Livre", aliás, traz uma positiva crítica
política, ressaltada pela pesquisa de popularidade do presidente e
algumas cenas da Fox News. Jonathan Pryce, que faz o personagem do presidente, é ao mesmo tempo Obama e Bush em GI Joe: Retaliação.
John M. Chu, diretor egresso de filmes de dança (Ela Dança, Eu Danço 2 e 3) e do documentário Never Say Never (sim,
o do Justin Bieber!), surpreende com seu entendimento de sequências de
ação - em especial as coreografias dos ninjas - e estruturação dos
planos de forma a tornar as cenas inteligíveis, algo cada vez mais raro
nesse tipo de cinemão explosivo. Há espaço para sutilezas interessantes
também, como a excelente cena, improvisada nos ensaios, em que Flint e
Lady Jane dividem um momento de intimidade.
O roteiro de Rhett Reese e Paul Wernick (a dupla de Zumbilândia), no entanto, se arrisca no vai-e-vem e flashbacks
com os ninjas. Ainda que sejam esteticamente agradáveis e respeitem
acontecimentos dos desenhos animados, essas cenas e personagens
confundem quem não está habituado com a franquia ou não tem o primeiro
longa na memória (o que, convenhamos, é a grande maioria). Essa trama
que corre paralela é mal explicada e tem furos, parece apressada e
interessada um pouco demais no mercado oriental, representado aqui na
figura de Lee Byung-hum, o Storm Shadow.
Também soa forçadíssimo o grande plano do Comandante Cobra (Luke Bracey),
que envolve um encontro de armas nucleares. Toda a sequência é caricata
demais e carece de tensão verdadeira, destoando do todo e resultando em
algo meio risível. O clímax, literalmente, bombástico também torna um
tanto difícil acreditar no desfecho, por mais fantasioso que o filme
seja. Com um eventual genocídio de milhões de habitantes de uma cidade
não haveria espaço para finais felizes ou continuações, já que mudaria
todo o panorama sóciopolítico do planeta. Talvez o filme devesse ter se
contido no desejo de explodir deus-e-o-mundo, em prol de sua própria
despretensão.
Para quem conseguir ignorar isso e focar-se no teor juvenil da trama, porém, GI Joe: Retaliação
deve ser diversão garantida. Afinal, o filme tecnicamente é
espetacular, cheio de cenas empolgantes e ideias bacanas, traquitanas
tecnológicas e com um 3D bem decente, apesar de convertido (o filme foi
atrasado em quase um ano para garantir a qualidade da estereoscopia, entre outras mudanças). Enfim, mais sério que o primeiro filme dos Comandos em Ação, mas não mais realista, G.I. Joe: Retaliação segue
levando a franquia na direção certa, explorando a alma da linha de
brinquedos, sem a necessidade de reinventar sua essência.
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