domingo, 26 de maio de 2013

Oblivion : Crítica

 Desastre nuclear, pandemia, revolta das máquinas, fenômeno sobrenatural, colapso climático ou julgamento divino. Conforme evolui, a humanidade também aprimora as alternativas da própria extinção. Na sua versão do fim do mundo, Joseph Kosinski escolheu a já conhecida invasão alienígena e adicionou amor e saudosismo ao seu pacote apocalíptico.


 

   A trama se passa 60 anos depois do ataque dos Scavs: a humanidade venceu a ameaça, mas o custo da salvação foi a própria Terra. Extraindo os últimos recursos naturais do planeta antes da mudança definitiva para uma lua de Saturno, Jack Harper (Tom Cruise) passa seus dias entre as ruínas da civilização, resgatando pequenas lembranças - livros, discos, plantas e um bobble head do Elvis - durante suas missões (daí a constante e acertada comparação do filme com Wall-E). O oficial veterano, que teve a memória apagada por questões de segurança, é acompanhado por Victoria (Andrea Riseborough), sua navegadora e esposa neste novo mundo.

  Oblivion apresenta uma Terra desolada, mas tecnologicamente avançada. Cuidadosamente desenhada, mesmo na destruição. Kosinski, que antes de cineasta é arquiteto, sabe como trabalhar para que sua direção de arte não seja apenas impressionante, mas funcional. Da nave de Jack à cozinha da base de operações, tudo parece intuitivo e familiar. Essa sensação é resultado de uma premeditada homenagem à ficção científica das décadas de 60 e 70 – começando em 2001 - Uma Odisseia no Espaço e passando por Star Wars, Solaris e Alien - O Oitavo Passageiro –, e do uso calculado dos efeitos visuais, que alternam recursos práticos e de computação gráfica com precisão. Há também uma preocupação visual em demarcar territórios, com a fotografia de Claudio Miranda (vencedor do Oscar por As Aventuras de Pi e colaborador de Kosinski em Tron - O Legado) evidenciando o contraste entre a assepsia hospitalar do universo de Jack e Victoria e o aspecto primitivo e sombrio dos seres invasores.

  A paleta também se transforma quando Jack encontra seu oásis, uma cabana improvisada em frente a um lago. Nas sequências no esconderijo (cuja localização é devidamente ocultada de Victoria), os tons quentes e naturais encontram a "verdadeira" Terra. O lugar serve para mostrar a ligação de Jack com o planeta que ele não quer abandonar, o local onde deposita seu espólio e encontra paz ao som de "Ramble On" do Led Zeppelin. A "lembrança pela qual vale a pena lutar" de Kosinski é feita de jogos de beisebol, rock, um pouco de literatura (de poetas romanos a Charles Dickens) e amor - a recordação da mulher misteriosa (Olga Kurylenko) que percorre o filme do início ao fim.

 Essa importância imagética de Oblivion não supera seu roteiro problemático (que passou pelas mãos de Karl Gajdusek e Michael Arndt). Há mais na rotina de Jack do que mostram suas missões para coletar recursos e conforme se desdobram as reviravoltas da trama, o filme passa a exigir esforço dobrado do espectador. Apesar das ideias interessantes, o fraco desenvolvimento dos personagens fora do triângulo amoroso atrapalha o fluxo da trama complexa (Morgan FreemanNikolaj Coster-Waldau são pouco mais do que figurantes de luxo) e os diálogos preguiçosos, que vão do insípido ao clichê, transformam Oblivion  em um filme onde são necessárias muitas concessões para se aproveitar o produto final.

 Kosinski imaginou seu apocalipse romântico muito antes da sua estreia no cinema, quando idealizou, ao lado de Arvid Nelson, a não publicada HQ de Oblivion. Sem o amparo de um roteiro bem estruturado, porém, seu filme dos sonhos não passa de um belo esforço, válido pela ideia, mas sem a capacidade de ir além dos filmes que o inspiraram.

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